sábado, 30 de abril de 2011

Além dos trilhos, um trabalho ferroviário

A rotina de funcionários da Biblioteca Neli Siqueira do Metrô de São Paulo mostra que nem todo ferroviário está diretamente na operação ou manutenção, mas tem sua importância para a companhia


Do Vida Sobre Trilhos*


Bons dias senhores Usuários!


No pioneirismo de Irineu Evangelista de Souza, ao inaugurar a Estrada de Ferro Petrópolis em 30 de abril de 1854, ligando em seus 14,5 km o Porto de Mauá, na Baía do Guanabara a Serra da Estrela, na região serrana, sequer imaginava que aqueles eram alguns poucos quilômetros do que cresceria exponencialmente até a década de 50 do século XX. Então reconhecido e titulado por Pedro II como Barão, seu maior feito seria a exploração de uma estrada de ferro que muitos diziam impossível.
Baronesa #1: Locomotiva que serviu a primeira
estrada de ferro do Brasil. Arquivo Pessoal
Até que, junto a empresários do café com quem negociava na Inglaterra, lhe apresentaram engenheiros que viram viabilidade com a criação de um plano de máquinas. Em 1867, surgia então o maior pulmão econômico e de desenvolvimento brasileiro: a São Paulo Railway.
Por não poder adentrar ao interior, em 11 de agosto de 1872, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF) surge para atender aos interesses dos fazendeiros no transporte do café sobre trilhos, mas, o que no final das contas a CPEF acaba sendo referência é por sua pontualidade e luxo em seus serviços de transporte de passageiros, onde o passageiro era a principal preocupação dos funcionários. Sua pontualidade era tal que as pessoas iam as estações da Paulista para acertarem seus relógios.
Outra grande marca da Paulista está na arquitetura e modernidade das estações: em sua maioria, são prédios de arquitetura imponente e arrojada. Em suas estações menores, pensando na agilidade para desembarcar os passageiros, passagens subterrâneas foram construídas em muitas delas, evitando assim desembarque pela via.
Por essas estradas, vários funcionários foram passando, mas, quem organiza e de onde vem tanta história?


A Biblioteca


Edson Fogo, um dos responsáveis  pela 
organização do acervo da biblioteca
Neli Siqueira, como já foi contado aqui, foi uma bibliotecária e metroferroviária que iniciou a organização de acervos técnicos, documentação e relatórios e assim o fez. Realizou tão bem que hoje a biblioteca leva seu nome e é referência dentro do Metrô, compartilhando documentos até mesmo com outras de outras companhias e outras bibliotecas. Atualmente, também possui documentos de outros temas além do transporte sobre trilhos.


A Equipe e suas funções


Há hoje dois responsáveis pelos periódicos (revistas), catalogando e fazendo a disposição na estante, um avaliando documentos que são enviados para tradução (documentos/ manuais de trens/ equipamentos e peças em geral que vem em inglês, francês, espanhol, chinês, etc.), outro responsável pela consulta ao acervo e outros na organização e catalogação do acervo.
(da esq. pra direita) Daniel, Elenita e Edson em seu local
de trabalho diário
Como diz Daniel Arnault, 36 anos, bibliotecário e metroferroviário, um dos funcionários da biblioteca, a grande motivação do trabalho é a satisfação ao ver os anseios dos usuários internos ou externos da biblioteca adquirirem o conteúdo que precisam: "Quando eles conseguem encontrar a informação que eles precisam, isso dá a satisfação pra gente." Daniel também diz que, além de suas funções dentro da biblioteca, também ministra palestras motivacionais e treinamentos: "Meu envolvimento fora da biblioteca se dá em palestras, essas relacionadas ao tema metrô para outros funcionários.", diz Daniel. Mesmo conhecendo os "prazeres" da operação, Daniel não quer se envolver com a mesma, prefere participar da promoção: "Trabalharia no marketing do Metrô, com eventos e as ações culturais".


Feliz dia do Ferroviário!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Vida pede atenção - "Causo" ferroviário

Do Vida Sobre Trilhos

Bons dias senhores Usuários!

Confesso que, quando iniciei essa coluna, não imagina que a vida fosse bater na porta do blog pedindo pra ser retratada. Desde um causo que surge da conversa de dois senhores e a estação que une almas gêmeas. Mas, o causo que o Anderson Nascimento depositou no vstrilhos.blog@gmail.com ultrapassou alguns dos limites do que chamamos de, talvez, indiferença ao próximo. É algo pra ler e refletir que o velho ditado:

"Não julgue o livro pela capa".
Curta o causo.

Resolvi escrever este e-mail para contar que não são apenas causos de amor que acontecem na rotina de um usuário do metrô. 
No dia 24 de dezembro de 2010 eu voltava para casa após um surrado dia de trampo. Como já era rotina seguia da estação Republica até a estação Brigadeiro. Enquanto aguardava o metrô após fazer baldeação para a estação Paraíso. Observei um homem que aparentava ser um mendigo com as suas roupas sujas e velhas, um andar sorrateiro e incerto. De cada usuário que ele se aproximava, a pessoa se afastava e negava qualquer tipo de contato. Até cheguei a pensar: "Esmolas a esta hora não" (passava da meia noite). O homem finalmente ficou próximo a mim e perguntou:

- Desculpa te incomodar... (neste momento uma mulher que iria embarcar junto comigo, mudou para a entrada do lado)... mas eu só quero saber se é este metrô que eu pego para chegar na Consolação.- Sim. Este mesmo. - respondi com um sorriso. E passei rapidamente a explicá-lo sobre as próximas estações.
O metrô chegou e entramos no mesmo carro. Ele sentou-se e eu permaneci de pé já pronto para o desembarque próximo à porta. Mas passado alguns segundos senti uma inquietação me domar. Algo me dizia por dentro: "conversa com ele". Envolto num misto de adrenalina e medo me aproximei dele e perguntei se ele estava bem. Ele automaticamente me respondeu que não era mendigo e isto me prendeu a atenção. Rapidamente ele me narrou que já estava vagando pelas ruas faziam 8 ou 10 dias. Que estava muito triste, numa depressão muito profunda. Ele falou:

- Eu tenho família, tenho filho. Minha mãe deve estar super preocupada comigo. Se você ligar para ela, verá que não estou mentindo.

Automaticamente pensei em ligar para a mãe dele. Não para saber se a história narrada era verdade, mas para contá-la que seu filho estava bem, que o havia encontrado, mas meu celular estava descarregado. Então pedi para ele voltar pra casa. Para pensar no quanto sua mãe estava preocupada, sua esposa com seu filho. Ele retrucou falando que não conseguia se desprender da angustia que o rodeava. Havia ficado assim porque emprestou dinheiro a um grande amigo e este deu sumiço para outro estado. Dinheiro o qual seria usado para concretizar algo importante na sua vida, mas por confiança acabou emprestando. Finalizei falando que nada na vida era eterno, que Deus estava presente na vida dele até mesmo neste momento e que ele deveria sim voltar para casa e reconstruir tudo o que perdeu quantas vezes fosse preciso.

Toda esta conversa ocorreu no trajeto das estações Paraíso-Brigadeiro. Apertei sua mão e desembarquei emocionado e pensativo. 
Minha vontade era de continuar a conversar com ele, tentar entrar em contato com sua família. Mas, ao mesmo tempo, me senti aliviado por apenas ter conversado com ele. Aqueles breves minutos com certeza lhe causaram uma enorme transformação.

Tenham uma boa semana!

*Se você se identificou com a história, conhece um caso assim ou é o homem que o amigo Anderson nos relatou, nos envie um e-mail contando sobre sua vida após esse encontro.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Metrô de São Paulo e seus 43 anos de qualidades e necessidades

Do Vida Sobre Trilhos

Bons dias senhores Usuários!
Antigo série 5700, atualmente Alstom Metropolis
Frota F: primeiro trem a ter tecnologia
de tração alternada. Créditos: Arquivo Pessoal

Você aí, hoje em plena terça-feira, depois de encarar horas de estrada ao retornar de outros estados, litoral ou do interior de São Paulo durante o feriado e agora se lembra que pelo resto da semana enfrentará os trens do Metrô lotados para chegar e voltar do trabalho sequer imaginou que em pleno domingo de páscoa, o pioneiro sistema de Metrô de São Paulo, o primeiro do Brasil, completou 43 anos de sua fundação e no próximo dia 14 de Setembro, a linha 1-Azul completará 31 anos de operação comercial.
Pois é, caro usuário, o Metrô de São Paulo não é dos maiores e, se comparado a outros sistemas brasileiros até, levou mais de 20 anos pra atingir extensão semelhante ao que o de Brasília atingiu em mais ou menos 17 anos de obras até sua inauguração efetiva. E atual Metrô Rio, que, por fundação tem quase a mesma idade e é inferior somente 20 quilômetros em extensão em suas duas linhas.

Mas, o Metrô de São Paulo sempre se destacou pelo pioneirismo quanto a implantação de tecnologias... (continue lendo)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Cinquenta e um anos de Brasília sem uma grande ligação com a ferrovia

Do Vida Sobre Trilhos*

Bons dias Senhores Usuários!
Pátio do Metrô DF, com vários trens Mafersa/Alstom.
Divulgação/Ministério dos Transportes

Brasília completou ontem 51 anos de existência. E o interesse em ser sede do primeiro jogo da copa do mundo no Brasil cresceu junto a estas comemorações. Mas, Brasília tem mobilidade para tal?

O estádio Mané Garrincha, o candidato a receber o ponta pé inicial e outros jogos da copa, está em reformas e é um dos estádios que agrega grande infraestrutura de apoio, possuindo vestiários, sala de fisioterapia, alojamento, academias e restaurantes. Mas, quanto a transporte metroviário, o estádio fica longe: a estação está a 40 minutos à pé do estádio e 5 minutos de carro a partir do mesmo ponto (segundo o Google Maps, que não tem cadastradas as empresas que prestam serviços de ônibus da capital federal, o que pode ser considerada uma grande falha). 
Mapa do Metrô DF - Créditos: Roni 1986
Em 1992, iniciam-se as obras com conclusão de término para 94, mas, diversos atrasos só fizeram com que a primeira linha inicia-se operação comercial, com horário de funcionamento inicialmente das 10h às 16h, 42 quilômetros de extensão e 11 estações somente 9 anos depois do início de sua obra. O Metrô DF tem características diferentes das que costumamos observar. Primeiramente, seu modelo de linha, praticamente, as duas linhas em quase toda sua extensão são "uma só", diferenciando-se a partir da estação Água Clara e segue até Ceilândia (linha Verde) e da mesma, segue até Samambaia (linha Laranja, veja detalhes no mapa) e, depois, ser o único metrô a ter "estações não operacionais", no caso, estações que aguardam o surgimento de uma demanda para entrar em operação, no caso, conforme avaliação e estudos da própria companhia.

O VLT

Talvez o projeto que tenha ganho o embargo, devido à denúncias de irregularidades na licitação para que houvessem benefícios as empresas Dalcon Engenharia, Altran/TC/BR 
VLT "Citadis" Alstom, o mesmo exposto na "Negócio nos Trilhos '09"
Autor:Mario Roberto Duran Ortiz
Tecnologia e Consultoria Brasília S/A na contratação do projeto básico do VLT, orçado em 
R$ 3,26 milhões. E, em 2009, a Alstom, fornecedora dos veículos leves sobre trilhos recuou quando houve o escândalo do "Mensalão do DEM", envolvendo o então governador José Roberto Arruda
Se caso o projeto do VLT não sair, Brasília ganhará em emissões de CO2: já é previsto um projeto compensatório para inserir 900 novos ônibus na capital federal.



E então,Brasília,o que em todo seu esplendor arquitetônico "Niemaieresco" fará por uma mobilidade urbana limpa sobre trilhos? 2014 tá aí.

Tenham um ótimo feriado!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

"Não seja o DJ do Trem": A CPTM já te ajudou a se livrar dessa

Em 2000, com o Expresso Leste entrando em operação, novos trens com ar condicionado e som ambiente entraram em operação, mas desagradaram aos músicos

Do Vida Sobre Trilhos

Bons dias Senhores Usuários!

Quando o Expresso Leste entrou efetivamente em operação em maio de 2000, o modelo de trens metropolitanos radicalmente mudou. Trens com aparência de alta velocidade, bancos mais confortáveis e ar condicionado. E, naquele momento, algo que só tinha serventia para anunciar o nome das estações e emitir mensagens sobre condições da operação ganhou uma nova função: levar boa música para os ouvidos dos usuários diários e quem usava os trens por acaso, se surpreendia ao poder ouvir MPB, Bossa Nova e clássicos da música erudita nos trens. 
Consórcio Ferroviário Brasil/ Espanha: O resultado
o CAF/ ADTranz (atual Bombardier)Alstom  Série 2000,
trem que mudou o conceito de metropolitano
Logo, após os trens do Expresso Leste, os trens da série 3000 também estavam aptos a tocar as músicas em seus alto falantes (mesmo que o som dos motores ao dar saída já seja uma verdadeira "ópera"). O som não era alto, geralmente num volume audível que não atrapalhava o diálogo das pessoas, interferia nas conversas telefônicas, o sono após um longa jornada de trabalho e o som de quem estivesse com seu tocador de músicas no fone de ouvido. Fato é que, a intenção foi boa mesmo que todos os trens operando na linha 9 (entre os anos de 2001 a 2005) das séries 3000 e 2100 tocavam essas músicas.


Deste terminal é possível selecionar as músicas que serão
ouvidas pelos usuários
Então, como sabemos, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos é uma empresa estadual e cobra pelos seus serviços e, sendo assim, tudo dentro dela logo configura um serviço prestado, gerou custos e as músicas fazem parte disso, logo, segundo leis nacionais de direitos autorais referentes a execução pública onde torna-se dever do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), responsável por arrecadar uma determinada quantia cada vez em que determinada obra é executada dentro dos trens, o que de fato não ocorria. Com exceção das músicas clássicas que são domínio público, pois seguem um outro artigo citando que "o compositor da obra, após 70 anos de seu falecimento ou do parceiro, terá sua obra para domínio público, segundo termos do que prevê o artigo 41 e seguintes da lei 9.610/98".
CAF Série 7000: "O trem das 11" durante a Virada Cultural 2010
homenageou o centenário de Adoniram Barbosa
De boas intenções, a CPTM esteve cheia durante estes quase cinco anos até que estas complicações com o ECAD surgiram. Outras, segundo contam funcionários era a manutenção falha da época, que fazia com que alguns carros tivessem a fonia por completo (ou seja, o som operava normalmente, com as músicas e os avisos das estações dados pelo maquinista), outros desregulados e em alguns casos, a inexistência de som. Ainda hoje é possível colocar músicas em todos os trens adquiridos desde o série 2000, ou seja, todos estão aptos, prova maior disso foi na Virada Cultural de 2010, em comemoração aos 100 anos de Adoniram Barbosa, tocava-se os clássicos dele junto aos "Demônios da Garoa" nos trens da série 7000.
E você, usuário diário? Como avalia? Além do fone, o som ambiente é interessante ou melhor permanecer como está atualmente? Deixe sua opinião!
Tenham um bom feriado!
Direitos Autorais Portal ECAD: http://www.ecad.org.br/
Fotos: Arquivo Pessoal
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