segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

De Palermo a Retiro pela Línea San Martín

Bons dias senhores usuários!


Esse é o primeiro texto do mês dos outros autores. E de cara já com uma viagem que o Alexandre Giebrecht, 34 anos, colunista e co-fundador da única revista eletrônica especializada em hóquei no gelo, "The Slot", projeto existente há 10 anos, publicitário e designer gráfico fez e mostrou um pouco das ferrovias argentinas. Neste caso, o objetivo era alcançar o metrô de Buenos Aires e conhecer um pouco mais dos bairros que a cercam. Todos os créditos são do blog pessoal do Alexandre Giebrescht, o Pseudopapel! Confiram!




A estação de metrô mais pró­xima do hotel em que nos hos­pe­damos em Buenos Aires, o Jam Suites Bou­tique Hotel, era a Sca­la­brini Ortiz, na Linha D. Como faríamos um périplo pelo metrô de Buenos Aires, seria o ponto de par­tida ideal, mas não era o que tínhamos em mente. A ideia era antes tomar o trem da Línea San Martín até Retiro, e dali pegar o metrô. Sem dúvida, uma grande volta, mas também um bom pas­seio para quem está dis­posto. Saindo do hotel, são dezes­sete quar­tei­rões de dis­tância, contra apenas dez até a estação de metrô. Isso sig­ni­fica, obvi­a­mente, conhecer mais do bairro de Palermo SoHo.
Subimos pela Gor­riti até a Godoy Cruz e seguimos por esta até a Ave­nida Santa Fe, onde se loca­liza a estação, ele­vada, na esquina com a Ave­nida Juan Bau­tista Justo. A Godoy Cruz é uma rua bas­tante arbo­ri­zada que segue para­lela à linha do trem. A foto acima mostra o trem che­gando à pas­sagem de nível na Gor­riti, meio quar­teirão após a Godoy Cruz, quando ainda não tínhamos che­gado sequer à metade de nossa cami­nhada de 25 minutos.
A Esta­ción Palermo foi cons­truída em 1909, junto com o via­duto con­tíguo, cha­mado Puente Pací­fico (foto abaixo), que passa sobre a Ave­nida Santa Fe. A Línea San Martín, ope­rada pela UGOFE (Unidad de Ges­tión Ope­ra­tiva Fer­ro­vi­aria de Emer­gencia), ori­gi­nal­mente foi con­ce­bida em 1882, como Com­pañía Fer­ro­carril de Buenos Aires al Pací­fico (BAP), empresa de capital bri­tâ­nico, daí os tri­lhos com mão inglesa. 

A fer­rovia foi esta­ti­zada em 1947. A linha metro­po­li­tana atual serve de Retiro a Pilar, e há ainda a linha inte­rur­bana, que liga Retiro ao inte­rior, incluindo Men­doza e San Juan.
Em Palermo só é pos­sível pegar o trem metro­po­li­tano. As tarifas são bara­tís­simas, vari­ando de 75 cen­tavos de peso (para quem anda entre uma e cinco esta­ções, depen­dendo do trecho) a dois pesos e vinte cen­tavos (para quem vai de uma ponta à outra da linha). Para se ter uma ideia, os valores em reais cor­res­ponde a 33 e 96 cen­tavos. Só para efeito de com­pa­ração, a tarifa da CPTM aqui em São Paulo é de R$ 2,70, ou mais de seis pesos argen­tinos. Com­pramos os bilhetes no andar inter­me­diário e subimos à pla­ta­forma, que fica colada ao via­duto. O bilhete não é mag­né­tico: ao chegar à pla­ta­forma um fun­ci­o­nário destaca-o, e você fica com o canhoto, que deve apre­sentar no destino.
Na pla­ta­forma onde embar­camos, que tinha como des­tino Retiro, não havia uma única loja, ao con­trário da pla­ta­forma oposta, que con­centra a esma­ga­dora mai­oria do movi­mento de embarque. Entre os anún­cios da estação, destacavam-se os que soli­ci­tavam aos pas­sa­geiros que não via­jassem nas portas dos vagões, que ficam abertas durante o per­curso. Segundo trecho sem fontes da Wiki­pédia em espa­nhol, essa linha chegou a ser conhe­cida como “Trem da Morte” depois da crise que afetou a Argen­tina em 2001. Alguns dos anún­cios que vimos tinham uma temá­tica bas­tante mór­bida, algo como “o garo­tinho ainda está espe­rando seu pai, que via­java na porta”. Uma pena que eu não tenha foto­gra­fado nenhum deles.
Não sei qual era a frequência de trens naquela manhã de sábado, mas a com­po­sição que nos levaria a Retiro não demo­raria a chegar. Já tínhamos andado nos trens metro­po­li­tanos de Buenos Aires em 2006, mas em uma linha da Fer­ro­carril General Bar­to­lomé Mitre (FCGBM) — o sis­tema é uma ver­da­deira con­fusão de nomes de linhas e fer­ro­vias —, entre as esta­ções Bar­to­lomé Mitre e Retiro. O trem que pegamos desta vez era mais moderno e con­for­tável, e havia segu­ranças em todos os vagões.

Ruas, ave­nidas e outras pai­sa­gens urbanas são exclu­si­vi­dade apenas das pri­meiras cen­tenas de metros do per­curso rumo a Retiro. Na foto abaixo, vê-se a Ave­nida Santa Fe (na direção oeste, ou seja, afastando-se do centro) a partir da Puente Pací­fico. A linha, que nesse trecho segue de sodo­este a nor­deste, passa por uma área bem arbo­ri­zada enquanto corre para­lela à Ave­nida Inten­dente Bull­rich, que é a con­ti­nu­ação da Juan Bau­tista Justo. Logo em seguida, encontra-se com as linhas da FCGBM que vêm do oeste e do noro­este e começa a correr lado a lado, com as três fazendo a curva para a direita e tomando a direção leste. 

De início, as linhas da FCGBM correm à esquerda de quem está na San Martín rumo ao Retiro, mas mais adi­ante passam por baixo da San martín e começam a correr à direita.
Um trecho curioso é o que tem um clube com várias qua­dras de tênis, que ficam entre a linha da San Martín e as linhas da FCGBM, como se pode ver abaixo, em foto que não con­segui evitar o reflexo no vidro da janela.
A partir daí, a pai­sagem vira indus­trial. 


Lembro-me que, antes de chegar a esse pedaço, quando peguei a linha da FCBGM em 2006, havia muitas áreas resi­den­ciais, algumas delas bas­tante sim­pá­ticas, mas no fim da linha era quase um deserto indus­trial, com um espaço aberto bem grande entre os tri­lhos onde está­vamos e os muros que sepa­ravam a linha do que quer que havia ali. Tanto é que, quando o José Maria de Aquino men­ci­onou a favela à esquerda de quem chega, pouco antes de Retiro, eu não me lem­brava de tê-la visto. Desta vez vi. Após o trecho indus­trial, o trem corre bem pró­ximo à favela e depois vai-se afastando.
Em 2006 che­guei à gare atrás do prédio prin­cipal da Esta­ción Retiro, conhe­cido como Retiro Mitre. Na época, sequer per­cebi que a estação estendia-se por mais dois pré­dios, Retiro Bel­grano e Retiro San Martín, um ao lado do outro. 

Desta vez, che­guei à Retiro San Martín, a mais sim­ples das três e a única que não tem uma gare. Na hora até estra­nhei, porque a estação não se parecia em nada com o que eu me lem­brava. Só ao sair dela é que comecei a per­ceber que, na ver­dade, exis­tiam três esta­ções e a partir daquele momento eu ja tinha che­gado por duas delas. 

Fim da linha para nós nos trens metro­po­li­tanos de Buenos Aires. Era hora de começar a andar de metrô...

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