quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Ele queria sair para ver o mar..." - Causo Ferroviário

Do Vida Sobre Trihos


Bom dia senhores usuários!


E eis que então, uma surpresa chega a nosso amigo Denis Castro. Em tempo que estamos numa nostalgia de que trens de média e longa distância precisam voltar, um causo nos surpreende.


Leia com atenção o relato a seguir:


Estação Santos: o destino de muitos trens da Fepasa
com destino final no litoral. Foto: Vanderlei Gomes
"Caros amigos um bom dia,vou relatar aqui uma história bacana vivenciada por um garoto na estação Palmeiras/ Barra Funda da CPTM. Eram por volta de 21:30 quando ao meu encontro um garoto me abordou pedindo uma informação,o pedido era saber como chegar até "Ilha comprida" Litoral de São Paulo,de Trem... Logo estranhei, afinal, fazem mais de 10 anos que não temos nenhum trem para o litoral. Perguntei a idade dele,e ele me disse que tinha 17 anos,mas aparentava bem menos... Fui conversando bastante com ele para tirar outras informações e ele me disse que estava correndo atrás de um sonho,o de "conhecer o mar" que apenas tinha visto pela TV. Ouvindo o relato ele contou que vendeu parte das trufas de chocolate que a mãe havia feito para ele vender e comprou um lugar em uma van clandestina que partiu de sua cidade natal,Sorocaba interior de São Paulo com destino á capital onde veio desembarcar na estação rodoferroviária da Barra Funda.Eis que, em relato, disse que apenas o pai sabia de sua aventura e a mãe nem imaginava. Pedi um telefone no caso o da mãe e ele forneceu um número de celular onde entrei em contato com a mãe do garoto, essa me disse que o garoto tem apenas 14 anos e que estava já há dois dias desaparecido. O menino queria a todo custo saber como chegar até o mar,e passei a orientá-lo que esta não era a melhor ideia para a idade dele e para a condição atual: sem dinheiro,sem banho,sem meios de se sustentar lá no litoral.Então, vi que lágrimas escorriam na medida que o sonho dele ficara cada vez mais distante de sua atual ilusão. Encaminhamos o garoto para o conselho tutelar e avisamos a mãe,passei o dia em contato e buscando maneiras de ajudá-lo. A mãe contou que vive com outra irmãzinha dele e ele apenas, é separada e a irmãzinha tem necessidades especiais, nenhuma condição de buscar o garoto e passei o dia atrás de uma solução,no meio da tarde. Até receber outra ligação da mãe em meu celular, muito preocupada, relatou-me que o garoto havia fugido da casa do conselho tutelar onde aguardava a mãe.
Fiquei em choque juntamente com ela.
Passada algumas horas, algo em torno das 22 horas, a mãe do garoto me ligou novamente, e disse que o menino havia chegado são e salvo em casa. Fiquei muito feliz com o desfecho mas não me dei por satisfeito em saber que a busca pela concretização do sonho do garoto não ter sido concluído e ter sido interrompido no terminal Barra Funda. A mãe informou que o garoto foi levado pela prefeitura de São Paulo até Sorocaba e que houve falha de comunicação entre a prefeitura e a assistência social, por isso informaram que o garoto havia fugido, já que não o encontravam por já ter sido levado em segurança para a mãe...Logo mais, ainda hoje (19/10),irei ligar para o garoto para falar com ele e quero muito ajudá-lo a realizar este sonho... 
Em breve postarei aqui o desfecho da história e podem ter certeza,o João* vai sim ter o sonho realizado...
Agora fazendo um breve comentário,quantos e quantos João's* sonham com coisas tão simples para nós,que tanto lutam para realizar e acabam-se frustrados na vida pela condição social em que vivem. A humanidade é tão unida que muitos querem apenas saber de si e se esquecem dos próximos... E nossa política e governo que deveriam dar condições ao nosso povo apenas impera em seus palácios, com as mãos suja de um lado e uma pia de água do outro e apenas as juntam para lavá-las..."
E Denis explica porquê esta história o tocou tanto...
"O caso do garoto me comoveu porque fiz a mesma coisa quando pequeno. Mas o que diferenciou foi apenas o destino: eu, quando criança, tinha o desejo de retornar a Bebedouro (interior de São Paulo) de trem e o fiz sozinho, sem minha mãe saber e fui também recolhido a uma casa de menor na cidade. Mas realizei meu sonho que era simples: voltar a andar nos trens da Fepasa para o interior, mesmo que minha mãe e minha tia tivessem que me buscar dias depois..."

Tenham uma ótima semana!

Quem quiser ajudar o Denis a realizar o sonho do menino, contate-o no Facebook ou pelo e-mail denisfepasa@uol.com.br 

*O nome do menor foi preservado.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

César de Souza tão cedo precisa de trens

Enquanto cidade de Mogi das Cruzes não conseguir dar atenção especial no seu modal sobre pneus e integrá-lo de forma decente com os trens da CPTM, César será somente um "tapa-buraco" de redação


Do Vida Sobre Trilhos


Bons dias, senhores usuários!


Estação Jundiapeba, a terceira mais movimentada
da cidade
A cidade de Mogi das Cruzes é a terceira maior da região metropolitana em território, mas, em ocupação urbana -uma das coisas que Mogi cita como orgulho- é das menores se comparada a Guarulhos e a própria capital: menos de 40% de sua área é urbanizada, não houveram grandes mudanças para ampliação de avenidas e a população está bem centralizada. Mas, ao mesmo tempo que é uma cidade que tem um grande foco no agronegócio, é também uma "cidade-dormitório": suas estações movimentam hoje quase 32 mil pessoas/dia, com interesses em deslocamentos internos (explicado a seguir), alguns poucos para outras cidades do alto Tietê e capital. Não satisfeita, ainda anseia atender mais um distrito: César de Souza. Segundo contam os mais velhos, essa "briga" pela estação começou ainda nos anos 90 e a mídia local sempre foi um grande porta-voz para dar vazão aos anseios do povo.


E ja naquela época, a CPTM já deve ter acenado negativamente por essa extensão.


Cartaz com dados gerais, com informes de deslo-
camentos, concentração populacional
e destinos que os mogianos tomam
ao usar o transporte público.
Foto: Haiser Ferreira/ TGVBR
Em 2009, durante o plano "Expansão SP", a CPTM propôs uma mudança radical: um projeto há tempos comentado começava a ganhar moldes: o Veículo Leve sobre Trilhos - VLT recebeu um projeto orçado em R$900mi para substituir os trens que operam atualmente entre Guaianazes e Estudantes, ser uma opção que atenda de maneira eficiente a demanda interna -nas pesquisas Origem/ Destino, a maior parte dos deslocamentos dos mogianos utilizando trens e qualquer outro modal é dentro da própria cidade- com a inserção de três novas paradas -Nova Jundiapeba, Vila Industrial e César de Souza-, melhor integração com o Expresso Leste que iria até a nova estação terminal Suzano, veículos novos, a possível exclusão de boa parte dos projetos de viadutos, já que parte dos muros cairiam e novas passagens seriam criadas, oferecendo não mais opções centralizadas para se deslocar dentro da cidade. Mas, com uma massiva campanha de um veículo de comunicação e uma contra-análise com poucos embasamentos, os mogianos e a política de Mogi permaneceram na promessa dos trens diretos sazonalmente (viagens diretas nos vales) e que esses chegariam até 2012 em Mogi. Promessa já refutada e que pode somente chegar -e se chegar- após 2014.
Em janeiro desse ano, na falta de boas pautas, já que cidade pouco gerava motivos para preencher uma primeira página com assuntos não-governamentais, "ressuscitar uma pauta" poderia ser a solução. Não tão diferente do que já fez o extinto "Notícias Populares", um jornal editado pelo Grupo Folha, que chegou a inventar o "Bebê Diabo" pra preencher uma lacuna editorial, o jornal repete a dose, só que tratando de assunto sério e sendo totalmente parcial e sem tantos argumentos técnicos que possam justificar sua defesa.
Até aquele momento, não 'existia manifestação popular sobre o trem, mesmo da primeira tentativa de cobrar a extensão da linha. De modo repentino, surgem pessoas de diversas áreas de interesse apoiando a campanha (desde líderes comunitários, políticos e até empresários), pesquisas afirmando um crescimento "exponencial" e expansão empresarial. Algumas afirmativas do próprio grupo é de que a demanda da estação chegue a 15mil


Sendo assim, todo dia, metade da população local se desloca pra fora de César?


Veículo do SIM - Sistema Integrado Mogiano
da empresa Princesa do Norte
Números de outras pesquisas oficiais afirmam o contrário: César desviaria usuários que hoje dependem do ônibus como modal para chegar até Estudantes e não trariam um adendo de usuários significativos. César, em embarques únicos, tem demanda de, apenas, 210 usuários/dia até 2014, ou seja, os embarques únicos sequer pagariam a operação da estação, orçado em R$105mil por mês.
Numa demanda projetada, em 11 anos cairia: seriam 150 usuários/ dia em 2025. Ou seja: há meios de solucionar, se o problema é o transporte público, o problema da mobilidade em César. Nesta mesma pesquisa, dados provenientes da Origem - Destino indicam que os deslocamentos do distrito são internos (dentro da própria cidade e dos bairros que o compõe).
Imagem obtida no site da Prefeitura de Mogi
deixa bem claro que o  transporte público
local é operado de maneira troncal
Então, uma nova questão: o SIM - Sistema Integrado Mogiano, onde as empresas CS Brasil/ Júlio Simões e Princesa do Norte são concessionárias, mantém somente um sistema que, mesmo Mogi não sendo urbanamente grande, usa de transporte troncal (onde os veículos tem o referencial de avenidas principais e distritos/ sub-distritos) para definir locais e pontos de parada e não possui um sistema "alimentador", onde veículos menores (que ambas concessionárias possuem para linhas de menor demanda)? Por que não há mais linhas alimentadoras, ligando pontos finais de ônibus até outros pontos de interesse da população e outros que interliguem bairros, sub-distritos e distritos sem que seja necessárias voltas por grandes avenidas?
Com poucas atitudes, um investimento orçado, aproximadamente em R$145mi para implantar a estação, o dinheiro gasto mensalmente em sua operação se faz muito mais para a melhoria da linha atual e outros planos que o próprio secretário Jurandir Fernandes tem pra César: um ponto estratégico para o trem regional até São José dos Campos, onde, com o bilhete metropolitano e integração municipal, podem-se deslocar mais usuários diariamente num serviço que tem maior respaldo, já que o vale do Paraíba tem uma demanda grande e muito mais reprimida de uma boa ligação com a capital paulista.


Terminal Central, um dos pontos de partida dos
ônibus do SIM mogiano
Hoje todo o sistema de transporte de Mogi está centralizado em linhas que começam em bairros e tem parada final nos terminais Central e Estudantes -localizados a menos de 200 metros da estação Mogi das Cruzes e Estudantes, respectivamente- e não podem haver integrações com os trens. Pelo simples motivo de que nenhuma das empresas concessionárias está disposta a repassar subsídios da integração com os trens.


Tanto no transporte municipal, quanto no metropolitano da EMTU que poderia atender os passageiros de Salesópolis, Guararema e Biritiba Mirim que usam os ônibus da CS Brasil/ Júlio Simões até o centro e/ou estação mais próxima.


Veículo da CS Brasil/ Júlio Simões que presta
serviços à área 4 da EMTU
Segundo fontes, como há um monopólio na região 4 da EMTU (Unileste), todas as empresas estão oferecendo exemplar resistência ao bilhete metropolitano. Diferente de outras empresas que já propuseram meios de integrá-los o mais rápido possível e, algumas, já o fizeram.
Mogi, antes de pedir um trem sem demanda, deve rever seu conceito municipal de transporte. O SIM já surgiu errado, as tentativas de ampliá-lo e melhorá-lo estão unicamente nas mãos dos empresários do transporte local que, em seu olhar ultrapassado, creem veementemente que a integração retirará usuários de seus ônibus -o que, em Jundiapeba, que possui somente duas linhas atendendo diretamente o distrito e outras três que passam em pontos próximos, sem a integração, já acontece, há uma preferência superior no deslocamento por trem em vista do ônibus para o centro. Qual o critério utilizado pra explicar que 15 linhas troncais são suficientes para atender a um distrito, segundo o poder público, mídia e movimento popular, sendo que há movimentação interna de passageiros no bairro? E o critério que definiu, por contrato, que cada concessionária deva possuir 90 veículos, desses, uma média de 85 operando nas linhas e 5 ônibus reserva? Antes de lutar por um outro modal, é necessário rever o modal de casa.


Tenham uma boa semana!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A última parada - Causo ferroviário

Do Vida Sobre Trilhos

Bons dias, senhores Usuários!

Em épocas áureas de trens de média e longa distância, esse é um causo raro de se ouvir.  Outro retrato contado por Anderson Conte, membro da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária - ABPF regional São Paulo e comunidade "Sociedade Amigos da CPTM".
Se você tem um causo, mande pra cá via e-mail, o vstrilhos.blog@gmail.com, nota com citação à fan-page do Facebook ou pergunte também via twitter, o@vstrilhos.


Segue o causo:
Foto da estação, de José Sanches,
 da "A Gazeta de Santo Amaro", 27/09/1963
"Este causo aconteceu num sábado de janeiro em 1991, quando eu, o meu avô sr. Natalino Conte (in memoriam), e o meu tio José Conte, fizemos a viagem no trem turístico da Fepasa, que nesta época, operava aos sábados e domingos entre a estação Barra Funda e a estação de Santos da Sorocabana - FEPASA na Av. Ana Costa.
Embarcamos na composição na plataforma - 04 de Barra Funda por volta das 08h da manhã. O trem seguia pela atual linha 08 - Diamante até Imperatriz Leopoldina, onde após entrava no Ramal de Jurubatuba (linha 9 - Esmeralda), seguindo até Evangelista de Souza, no entrocamento com a Mairinque / Santos.Em Evangelista era feita a troca de Locomotivas, saindo a maquína do trecho do metropolitano (nesta dia era a LEW 3709) e entrando uma locomotiva de Santos (U-20).
 VIAGEM ESPETACULAR Belíssima paisagem do trecho ferroviário de serra da antiga Sorocabana, com suas maravilhosas cachoeiras e túneis!
A estação, em foto de jornal, 30/07/1958.
Foto cedida por Coaraci Camargo
Passamos o dia em Santos e a tarde, embarcamos no trem de volta pra Sampa. E como era sábado, a maioria dos passageiros ficou em Santos, provavelmente para voltar no dia seguinte. Então, o Chefe de Trem passou os passageiros para um único carro além do carro restaurante, trancando dos dois últimos Carros (BUDD MAFERSA 800, OS MESMOS QUE HOJE ESTÃO ABANDONADOS NO PÁTIO DE PRESIDENTE ALTINO EM OSASCO).Subimos a serra da Sorocabana tomando café com tudo que se tem direito no carro restaurante, curtindo a paisagem do final de tarde.
Em Evangelista troca de Locomotivas novamente, onde a LEW já aguardava para puxar o trem de volta para a Barra Funda.Perguntei ao Chefe de Trem, se seria possivel fazer uma rápida parada junto a antiga e já desativada estação Cidade Dutra, atrás do Autódromo de Interlagos. Pois alí eu já estaria em casa!O Chefe de Trem me levou até o maquinista, conversamos e TUDO COMBINADO!...O trem partiu de Evangelista de Souza já no início da noite, e seguiu pelo Ramal de Jurubatuba de volta normalmente.Quando foi se aproximando onde hoje está a nova estação Autódromo, havia uma passagem em nível (PN). Era normal o maquinista INSISTIR NO APÍTO BUZINA, pois ná época só cargueiros passavam por este trecho do Ramal. (não havia ainda a extensão provisória operacional Jurubatuba / Varginha da então linha Sul de trens metropolitanos da Fepasa).
Passada a passagem em nível, fui eu e o Chefe de Trem para a plataforma (varanda do carro), mas o trem ia se aproximando da estação Cidade Dutra e nada do mesmo parar. E PASSOU BATIDO PELA MESMA SEM PARAR, VINDO LOGO APÓS A PONTE DO RIO JURUBATUBA.Chegando na estação Jurubatuba, o trem tinha de cumprir parada obrigatória alí, pois terminava o trecho de autorização de tráfego por staff (sistema de sinalização anterior aos utilizados nas ferrovias que se baseia na colocação de um bastão metálico em um ponto e autorizando o trem seguir passagem naquele determinado espaço), entrando o sistema do Metropolitano (ATC). O maquinsita "trocava" um relatório ao chefe de estação de Jurubatuba, tanto na ida, quando na volta.
O Chefe de Trem e eu desembarcamos na Plataforma de Jurubatuba e fomos falar com o maquinista, QUE HAVIA ESQUECIDO MESMO DA COMBINADA PARADA EM CIDADE DUTRA! Me pediu desculpas e tudo.Mas não havia mais o que fazer...Perguntei então se seria possivel fazer uma Parada na ESTAÇÃO LARGO TREZE DA FEPASA, ATUAL SANTO AMARO DA CPTM, pois alí teria ônibus para eu voltar. E assim foi feito!Era por volta de 19h30 mais ou menos, quando a composição vinda de Santos alinhou na Plataforma sentido Osasco da estação Largo Treze (Santo Amaro), onde desembarquei.
Meu Avô e Tio seguiram para a Barra Funda, pois moravam no Jabaquara e pegariam o Metrô.
TALVEZ, TENHA SIDO ESTA A ÚNICA VEZ QUE UM TREM DE PASSAGEIROS VINDO DE SANTOS, TENHA FEITO PARADA NA ESTAÇÃO LARGO TREZE DA FEPASA, ATUAL SANTO AMARO DA CPTM PARA DESEMBARQUE DE PASSAGEIROS!"

Tenham uma boa semana!
*fotos cedidas pelo site Estações Feroviárias.
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