sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Vida pede atenção - "Causo" ferroviário

Do Vida Sobre Trilhos

Bons dias senhores Usuários!

Confesso que, quando iniciei essa coluna, não imagina que a vida fosse bater na porta do blog pedindo pra ser retratada. Desde um causo que surge da conversa de dois senhores e a estação que une almas gêmeas. Mas, o causo que o Anderson Nascimento depositou no vstrilhos.blog@gmail.com ultrapassou alguns dos limites do que chamamos de, talvez, indiferença ao próximo. É algo pra ler e refletir que o velho ditado:

"Não julgue o livro pela capa".
Curta o causo.

Resolvi escrever este e-mail para contar que não são apenas causos de amor que acontecem na rotina de um usuário do metrô. 
No dia 24 de dezembro de 2010 eu voltava para casa após um surrado dia de trampo. Como já era rotina seguia da estação Republica até a estação Brigadeiro. Enquanto aguardava o metrô após fazer baldeação para a estação Paraíso. Observei um homem que aparentava ser um mendigo com as suas roupas sujas e velhas, um andar sorrateiro e incerto. De cada usuário que ele se aproximava, a pessoa se afastava e negava qualquer tipo de contato. Até cheguei a pensar: "Esmolas a esta hora não" (passava da meia noite). O homem finalmente ficou próximo a mim e perguntou:

- Desculpa te incomodar... (neste momento uma mulher que iria embarcar junto comigo, mudou para a entrada do lado)... mas eu só quero saber se é este metrô que eu pego para chegar na Consolação.- Sim. Este mesmo. - respondi com um sorriso. E passei rapidamente a explicá-lo sobre as próximas estações.
O metrô chegou e entramos no mesmo carro. Ele sentou-se e eu permaneci de pé já pronto para o desembarque próximo à porta. Mas passado alguns segundos senti uma inquietação me domar. Algo me dizia por dentro: "conversa com ele". Envolto num misto de adrenalina e medo me aproximei dele e perguntei se ele estava bem. Ele automaticamente me respondeu que não era mendigo e isto me prendeu a atenção. Rapidamente ele me narrou que já estava vagando pelas ruas faziam 8 ou 10 dias. Que estava muito triste, numa depressão muito profunda. Ele falou:

- Eu tenho família, tenho filho. Minha mãe deve estar super preocupada comigo. Se você ligar para ela, verá que não estou mentindo.

Automaticamente pensei em ligar para a mãe dele. Não para saber se a história narrada era verdade, mas para contá-la que seu filho estava bem, que o havia encontrado, mas meu celular estava descarregado. Então pedi para ele voltar pra casa. Para pensar no quanto sua mãe estava preocupada, sua esposa com seu filho. Ele retrucou falando que não conseguia se desprender da angustia que o rodeava. Havia ficado assim porque emprestou dinheiro a um grande amigo e este deu sumiço para outro estado. Dinheiro o qual seria usado para concretizar algo importante na sua vida, mas por confiança acabou emprestando. Finalizei falando que nada na vida era eterno, que Deus estava presente na vida dele até mesmo neste momento e que ele deveria sim voltar para casa e reconstruir tudo o que perdeu quantas vezes fosse preciso.

Toda esta conversa ocorreu no trajeto das estações Paraíso-Brigadeiro. Apertei sua mão e desembarquei emocionado e pensativo. 
Minha vontade era de continuar a conversar com ele, tentar entrar em contato com sua família. Mas, ao mesmo tempo, me senti aliviado por apenas ter conversado com ele. Aqueles breves minutos com certeza lhe causaram uma enorme transformação.

Tenham uma boa semana!

*Se você se identificou com a história, conhece um caso assim ou é o homem que o amigo Anderson nos relatou, nos envie um e-mail contando sobre sua vida após esse encontro.

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