domingo, 10 de julho de 2011

Coisas que TAMBÉM poderiam viajar de trem

*Do Vida Sobre Trilhos


Detalhe da super carreta na Av. Washington Luís.
Fonte: agência Vip News
Hoje os técnicos da CET (Companhia de Engenharia de Transito) retiraram o transformador de cerca de 200 toneladas que bloqueou a Avenida Washington Luís, em São Paulo. O problema ocorreu porque o motorista da super carreta que transportava esse transformador perdeu o controle e só parou ao atingir um muro. Como a carga é superdimensionada foi necessário uso de equipamentos de igual porte para sua remoção.
Não é de hoje que ouvimos e lemos que super carretas atravessam São Paulo com cargas variadas de peso e dimensões gigantes nem que algumas delas causam problemas de igual tamanho ao trânsito por motivos diversos. Tais veículos viajam em baixa velocidade e são de manobra difícil e se sofrem algum problema podem causar gigantes transtornos ao transito das cidades.

Vagão plataforma rebaixado da SOROCABANA transportando peça de grande
altura.Foto: Sullivan Duarte/Divulgação Fepasa - Ferrovias Paulistas
O que muito não se lembram ou mesmo desconhecem é que em um passado não tão distante tais cargas seguiriam por via férrea não causando transtornos ao transito das cidades.
O transporte por trilhos seria feito pelos chamados vagões especiais são projetados para transportar cargas de dimensões elevadas ou de conteúdo especial. Esses vagões, assim como essas super carretas, possuem mais eixos que vagões comuns para suporta e distribuir o maior peso da carga e sistemas de articulação para poderem executar as curvas.


Vagão especial Usiminas 01 de bitola métrica (1 metro). 
Originalmente publicado no site VFCO.
Infelizmente tal pratica deixou de ser realizada por uma série de motivos como a falta de investimentos sérios no transporte ferroviário que elevou os custos de manutenção da ferrovia baixando sua produtividade. Com isso os fretes ferroviários aumentaram e as ferrovias passaram quase que exclusivamente a transportar cargas de menor valor agregado e maior rentabilidade como minérios e produção agrícola.
Após a privatização das ferrovias no fim dos anos 90 a situação começou a se inverter, mas praticamente não existe transporte de tais equipamentos por meio da ferrovia no nosso país enquanto que outros países se transportam tais equipamentos como transformadores, turbinas, dutos e afins.
Vagão para 300 toneladas de bitola larga (1,60 metros),
fabricado em 1971. Arquivo de Cezar Hipólito
Existem diversos motivos para isso, dentre eles interesse das operadoras, outros são técnicos e econômicos, mas principalmente falta de uma estrutura ferroviária capaz disso.
Apontamos aqui alguns motivos:

  • Gabarito da estrada incompatível com tais cargas (altura e largura em excesso que impossibilitam transitar por túneis, trechos eletrificados ou plataformas de estações);
  • Peso por eixo elevado que a via (que muitas das ferrovias) não suportaria, bem como pontes antigas.Inexistência de segregação dos trens de carga da malha de trens metropolitanos (pois a velocidade menor atrapalharia o mesmo);
  • Falta de segurança, pichadores e demais vândalos poderiam danificar a carga de alto valor agregado.
Se nossas ferrovias fossem um pouco mais evoluídas (apesar da modernização recente) talvez dependêssemos menos de usar carretas gigantes que atravancam o transito e teríamos menos transtornos no caótico transito das cidades brasileiras.
Fica essa imagem de uma ferrovia norte americana (BNSF) transportando a fuselagem de um avião da Boeing. Talvez, transformadores e outras cargas vultuosas pudessem estar nos trilhos aqui também e não somente nas rodovias.

*Luis Fernando da Silva é Técnico em Sistemas Eletroeletrônicos de Transporte sobre Trilhos, pesquisador do tema e assina esse texto.

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